Líder da bancada do Tocantins, a senadora Professora Dorinha (União) enviou ofício para cancelar o pagamento de uma emenda de quase R$ 3 milhões do novo orçamento secreto para a ONG Ibras – Instituto Brasileiro de Cidadania e Ação Social. O problema é que o dinheiro já havia sido transferido pelo Ministério das Mulheres. De acordo com os documentos enviados ao Metrópoles, o fiador da demanda é o deputado Eli Borges (PL-TO), que chegou a pedir a retirada do repasse.
Entenda o caso:
- O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino interrompeu pagamento de emendas para ONGs, após a Controladoria-Geral da União (CGU) apontar que diversas instituições não cumpriam os requisitos de transparência dos repasses.
- O Ibras foi uma dessas instituições. O instituto entrou no cadastro de Entidades Privadas Sem Fins Lucrativos Impedidas (Cepim) e no Cadastro Nacional de Empresas Inidôneas e Suspensas (Ceis).
- A ONG recebeu R$ 2,9 milhões por meio do Ministério das Mulheres para capacitar vítimas de violência e em situação de vulnerabilidade.
- O instituto, porém, funciona numa casinha junto com um estúdio de pilates e uma escola de judô. A mesma organização faz 88 serviços diferentes e recebeu R$ 17 milhões para shows sertanejos, entrando na mira do Tribunal de Contas do Estado de Roraima.
A verba paga ao Ibras foi enviada por meio de uma emenda de bancada. Esse tipo de repasse nasceu para que parlamentares financiem obras estruturantes nos seus estados, mas passou a ser rateado informalmente entre deputados e senadores, sem disponibilização da autoria individual. Por isso, esse mecanismo tomou o lugar das emendas de relator, conhecidas como “orçamento secreto”.
De acordo com documentos recebidos pela reportagem, o autor informal da emenda de R$ 2,9 milhões para a ONG foi o deputado Eli Borges. Em 6 de maio de 2024, o parlamentar enviou um ofício para a Professora Dorinha solicitando o pagamento. Em 17 de junho do mesmo ano, ele enviou um novo comunicado, dessa vez solicitando a devolução da emenda.




Endereço da ONG Ibras, alvo do STF pelo recebimento de emendas parlamentares.
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Professora Dorinha (União Brasil-TO)
Pedro França/Agência Senado
Ministra das Mulheres, Cida Gonçalves
Hugo Barreto/Metrópoles
Reprodução
“Caso haja a execução deste Termo de Fomento em Palmas (TO) como está escrito no plano de trabalho não tem participação da minha pessoa como parlamentar de indicação”, escreveu o deputado.
O pagamento foi feito no dia 23 de maio do ano passado, antes de o pedido de devolução da emenda ser feito por Eli e chegar ao Ministério das Mulheres. Em carta enviada à ministra Cida Gonçalves, no dia 28 de junho do mesmo ano, Dorinha enviou uma cópia do ofício expedido pelo deputado.
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Ela se refere ao colega como “responsável pela indicação da emenda que deu origem ao convênio” celebrado com o Instituto Brasileiro de Cidadania e Ação Social (Ibras), avisando que o parlamentar “não ter mais interesse no prosseguimento do referido convênio” com a ONG.
“Importante salientar que o Ibras tem sede em Roraima, e após uma breve pesquisa pode-se verificar que no ano de 2023, o Tribunal de Contas do Estado de Roraima detectou suposta falta de transparência na prestação de contas pela realização da 42ª Exposição Feira Agropecuária de Roraima (Expoferr 2023), justificando o acompanhamento mais criterioso do referido convênio por parte deste ministério”, escreveu Dorinha à ministra.
O que diz o ministério sobre a emenda para a ONG
Procurada, a pasta afirmou que o termo de fomento para a emenda foi formalizado bem antes dos ofícios, em 28 de dezembro do ano passado. “O Ministério das Mulheres informa que o Termo de Fomento em questão tem como objeto a ‘realização de capacitações e ações de qualificação, bem como por meio do fornecimento de apoio técnico, especializado e multidisciplinar para o aprimoramento de habilidades profissionais’, no valor de R$ 2.999.855,46, e foi formalizado em 28/12/2023, publicado na Plataforma Transferegov”, diz o texto.
De acordo com o ministério, “trata-se de uma emenda parlamentar impositiva, devendo ser formalizada dentro do exercício orçamentário da emenda”. Sobre a sede da instituição, o ministério diz que “não é competência da área técnica do Ministério das Mulheres, no ato da formalização, a verificação in loco da localização da sede da instituição”.