A inflação, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), referente a março, será conhecida nesta sexta-feira (11/4). A expectativa do mercado financeiro é de que o IPCA desacelere, após atingir marca recorde em fevereiro.
Embora registre uma desaceleração em março, o desempenho não será suficiente para convergir a inflação ao intervalo da meta deste ano, que é de 3% com variação de 1,5 ponto percentual — isto é, um espaço entre 1,5% e 4,5%.
Os dados serão divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A inflação em fevereiro
- Os preços de bens e serviços do país subiram 1,31% em fevereiro, maior taxa para o mês desde 2003. Atualmente, o Brasil tem inflação acumulada de 5,06% — bem acima do teto da meta, de 4,50%.
- A guinada da inflação em fevereiro foi influenciada pelo aumento de 16,80% na energia elétrica residencial. A forte aceleração do IPCA ocorreu devido ao fim do “Bônus de Itaipu” — desconto aplicado nas contas de luz.
- O segundo grande “puxador” do avanço em fevereiro foi o grupo de Educação, que subiu 4,7% graças ao início do ano letivo, representando impacto de 0,28 ponto percentual.
- A meta da inflação para 2025 é de 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual com variação para cima e para baixo — isto é, com teto de 4,5% e piso de 1,5%.
- No momento, a inflação não dá sinais de não ficar dentro do intervalo de tolerância, o que pode caracterizar o descumprimento da meta inflacionária pelo segundo ano seguido, agora, no novo sistema de metas.
A Warren Investimentos estima que o IPCA avance 0,50% em março, com variação de 5,41% no acumulado em 12 meses. Para a corretora, as maiores variações devem ser dos grupos de Alimentação e bebidas (0,98%) e de Despesas Pessoais (0,73%).
Segundo análise de Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren, apenas Comunicação deve registrar queda (-0,17%) no mês.
“Se comparado com o IPCA de fevereiro, a desaceleração relevante seria a do item de energia elétrica, assim como a gasolina e o grupo de Educação, este último devido ao efeito do reajuste das mensalidades escolares captado na última inflação cheia”, avaliou.





Recibo de compras no supermercado
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Inflação resiliente continua preocupando o mercado
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Para os analistas do mercado financeiro consultados pelo Banco Central (BC), no relatório Focus dessa segunda-feira (7/4), a projeção de inflação de 2025 é de 5,65%. Os economistas apostam em um aumento de 0,56% no IPCA de março.
Meta de inflação pode ser descumprida
A partir deste ano, a meta de inflação é contínua, e não mais por ano-calendário. Ou seja, o índice é apurado mês a mês. Nesse novo modelo, se o acumulado em 12 meses ficar fora desse intervalo por seis meses consecutivos, a meta é considerada descumprida.
Em caso de descumprimento, o Banco Central precisa divulgar carta aberta ao ministro da Fazenda — neste caso, Fernando Haddad — explicando as razões para o estouro. Isso porque o BC tem o papel de controlar a inflação e o principal instrumento para conter o avanço dos preços é a taxa básica de juros (a Selic), definida pelo Copom a cada 45 dias. A próxima reunião será nos dias 6 e 7 de maio.
O próprio Banco Central segue dando declarações indicando o estouro do teto da meta inflacionária em 2025.
Na ata do Comitê de Política Monetária (Copom) de março, o BC alertou que, se a inflação continuar avançando, o valor acumulado em 12 meses permanecerá “acima do limite superior do intervalo de tolerância da meta nos próximos seis meses consecutivos”.
“Desse modo, com a inflação de junho deste ano, configurar-se-ia descumprimento da meta sob a nova sistemática do regime de metas”, destacou o colegiado em trecho da ata.
Além disso, o BC avaliou que a chance de a inflação estourar o teto da meta subiu de 50% (em dezembro) para 70%, conforme dados presentes no Relatório de Política Monetária (RPM), publicado no fim de março.
Em fala recente, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, sinalizou que a curto prazo, o Brasil precisará lidar com uma inflação acima da meta. Ele ressaltou que a combinação entre inflação elevada e juros altos “costuma produzir essa posição mais incômoda”.
“O Banco Central sabe que, no curto prazo, a gente vai conviver com uma inflação acima da meta e que os mecanismos de transmissão desse processo vão se dar nessa ordem que a gente tem comunicado”, declarou Galípolo.
Bancos projetam IPCA acima do teto
Além do mercado financeiro, as instituições bancárias projetam que a inflação deve estourar a meta. Pesquisa da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) mostrou que a maioria dos bancos (90%) estima que o IPCA feche 2025 acima do teto da meta, que é de 4,5%.
Assim como no relatório Focus, as previsões de inflação para este ano seguem bastante elevadas no setor bancário. Segundo a Febraban, 71,4% dos bancos esperam que o IPCA fique em torno de 5,5%, enquanto 19% projetam o índice próximo ou acima de 6%.