O Brasil confirmou, nesta sexta-feira (16/5), um caso de gripe aviária em uma granja comercial no Rio Grande do Sul, o que desencadeou uma série de suspensões de importação do frango brasileiro por parte de grandes parceiros comerciais. A situação provoca, agora, receio nos brasileiros, diante dos possíveis efeitos no preço da carne no mercado interno.
Frango brasileiro em números
- De acordo com a Secretaria de Comércio e Relações Internacionais (SCRI), o Brasil exporta carne de frango para 172 países, sendo o maior exportador e terceiro maior produtor.
- Conforme a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), em abril, a venda de produtos in natura e processados de frango foi de aproximadamente 480 mil toneladas, sendo o segundo melhor resultado da série histórica do setor.
Na leitura do coordenador de mercados da consultoria Safras & Mercado, Fernando Iglesias, a oferta da carne de frango no mercado doméstico brasileiro deve aumentar, ocasionando numa possível diminuição do preço para o consumidor final. Para ele, o Brasil continua sendo a melhor alternativa para fornecimento de carne de frango no mundo, cenário esse que não deve mudar com a atual crise da gripe aviária.
“A gripe aviária não é uma ocorrência tradicional, não é uma característica da avicultura de corte ou mesmo da avicultura de estrutura aqui do Brasil. Realmente, foi um fato isolado. O Brasil trabalha muito sério nas questões sanitárias para evitar que esse tipo de problema se repita”, analisa Fernando Iglesias.





Vírus H5N1, da gripe aviária, é mais frequente em pássaros, mas ocorre também em mamíferos
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Gripe aviária pode atingir aves domésticas, como galinhas, mas também animais selvagens e mamíferos
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Galinha com a faixa azul na perna teve foi geneticamente modificada para resistir à gripe aviária
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Japão suspende importação de frango de SC após caso de gripe aviária
Cristiano Estrela/Arquivo Secom)
gripe aviária
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Gripe aviária pode atingir aves domésticas como galinhas
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O advogado internacionalista e presidente do Instituto Brasileiro de Direito Estrangeiro e Comparado (IBDESC), Julian Henrique Dias Rodrigues, também entende que a suspensão das importações pode resultar em um excedente de oferta no mercado interno brasileiro. Para ele, a maior disponibilidade de frango pode exercer pressão para a redução dos preços no curto prazo.
“Mas a redução pode ser momentânea. Se a suspensão se prolongar ou se outros países adotarem medidas semelhantes, os produtores podem ser compelidos a ajustar seus preços para evitar prejuízos. O setor já vinha enfrentando aumentos de preços acima da inflação, com o frango inteiro registrando alta de 9,16% e o frango em pedaços, 12,21%, nos últimos 12 meses, superando o IPCA no mesmo período, o que pode ser um agravante a mais no cenário”, esclarece Rodrigues.
Cenário internacional
Dados da Secretaria de Comércio e Relações Internacionais (SCRI) mostram que 33% da produção brasileira de frango é destinada ao mercado externo. Até o fechamento desta reportagem, Argentina, China, União Europeia e México haviam anunciado a suspensão das importações do frango brasileiro.
Dias Rodrigues destaca que, embora haja um “risco reputacional, mas controlável” para o Brasil no cenário internacional, a crise sanitária evidencia uma vulnerabilidade crítica. “O Brasil ainda é visto como fornecedor confiável em muitos mercados pela sua estrutura produtiva e histórico, mas a vigilância dos aspectos sanitários já não acompanha esse padrão”, afirma.
O internacionalista ressalta que mercados como China e UE agem com base em “interesses geopolíticos e protecionismo disfarçados de precaução”, exigindo do Brasil transparência, regionalização e controle técnico para evitar embargos.
O presidente do IBDESC também alerta para as consequências práticas da desconfiança internacional, mesmo diante de um foco isolado de gripe aviária. “A reação da China e da UE — que ignoraram protocolos de regionalização e agiram com embargo total — mostra que a confiança externa não está garantida”, observa.
Ele avalia que o Brasil precisará investir tempo e recursos para reconstruir sua imagem sanitária, enquanto os consumidores sentirão os efeitos em duas fases.
Doença de Newcastle
Essa é a segunda vez que produções aviárias no Rio Grande do Sul passam por crise em menos de um ano. Em julho de 2024, foi confirmada em Anta Gorda (RS) a doença de Newcastle, doença viral altamente contagiosa em aves. À época, o governo brasileiro suspendeu temporariamente a exportação de carne de aves para 44 países, após identificar o foco viral nos animais.
O Ministério da Agricultura e Pecuária realizou uma investigação epidemiológica que confirmou, em julho de 2024, o encerramento do foco de doença de Newcastle no Rio Grande do Sul. Documento encaminhado à Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) trouxe a análise nas áreas de perifoco (a 3km do foco) e de vigilância (a 10 km), no qual não foi identificado nenhum animal com sinais clínicos compatíveis com a doença.
O que é a gripe aviária
A influenza aviária, também conhecida como gripe aviária, é uma doença viral altamente contagiosa que afeta, principalmente, aves silvestres e domésticas, mas também pode acometer humanos, no entanto, o risco é baixo.
Entre os principais sintomas apresentados nas aves, estão dificuldade respiratória, secreção nasal ou ocular, espirros, incoordenação motora, torcicolo, diarreia e alta mortalidade.
Todas as suspeitas de influenza aviária, que incluem sinais respiratórios, neurológicos ou mortalidade alta e súbita em aves, devem ser notificadas imediatamente à Secretaria da Agricultura por meio das Inspetorias de Defesa Agropecuária.