Pedra no sapato do governo Lula (PT), a inflação continua pressionando os preços de bens e serviços. Embora tenha desacelerado em março, o índice subiu 0,56% no mês e 5,48% no acumulado em 12 meses. A combinação entre economia resiliente e inflação alta indica que um eventual corte dos juros está fora do horizonte do Banco Central — que adiantou que o ciclo de aperto monetário (ou seja, o aumento do juros) “não está encerrado”.
Atualmente, a inflação, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), está bem acima do teto da meta para este ano, que é de 4,50% (entenda abaixo). O presidente do BC, Gabriel Galípolo, já alertou que, a curto prazo, o Brasil precisará lidar com uma inflação acima da meta. Segundo ele, esse cenário “costuma produzir essa posição mais incômoda”.
Entenda a situação dos juros no Brasil
- A taxa Selic é o principal instrumento de controle da inflação.
- Ao aumentar os juros, a consequência esperada é a redução do consumo e dos investimentos no país.
- Dessa forma, o crédito fica mais caro e a atividade econômica tende a desaquecer, provocando queda de preços para consumidores e produtores. A inflação dos alimentos tem sido a pedra no sapato do presidente Lula (PT).
- Os juros estão em 14,25% ao ano, mesmo patamar da época da crise no governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).
- São esperadas novas altas nos juros ainda no primeiro trimestre, com taxa Selic próxima a 15% ao ano.
- Projeções mais recentes mostram que o mercado desacredita em um cenário em que a taxa de juros volte a ficar abaixo de dois dígitos durante o governo Lula (PT) e do mandato de Galípolo à frente do BC.
Enquanto a pressão inflacionária persiste, a atividade econômica segue surpreendendo. Isso porque o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), considerado a prévia do Produto Interno Bruto (PIB), mostrou um bom desempenho da economia brasileira em fevereiro, com alta de 0,4%. O destaque vai para o desempenho da agropecuária, com incremento de 5,6%.
André Valério, economista sênior do Inter, ressalta que os dados indicam que o PIB será “robusto” no primeiro trimestre. O banco mantém a previsão de “uma acomodação do crescimento ao longo do ano”, com o PIB totalizando alta de 1,5% no fim de 2025.
Com esses fatores na mesa, o início do ciclo de cortes na taxa básica de juros (a Selic) parece estar cada vez mais distante. A próxima taxa Selic será decidida pelo Comitê de Política Monetária (Copom) em 6 e 7 de maio. É esperada mais uma alta, porém, de menor magnitude.
BC deve seguir aumentando juros
Sidney Lima, analista CNPI da Ouro Preto Investimentos, entende que, com a inflação acima da meta e o dólar nas alturas, o Banco Central pode “reconsiderar cortes na taxa Selic” e mantê-la elevada por mais tempo.
Lima crê que a medida pode afetar os investimentos no Brasil e tornar o ambiente menos atrativo para investidores estrangeiros.
“Para os consumidores, a combinação de inflação elevada e dólar valorizado reduz o poder de compra, especialmente em produtos importados”, afirma o analista. “No geral, as políticas comerciais de Trump têm efeitos indiretos significativos sobre a economia brasileira, influenciando o câmbio, a inflação e as decisões de política monetária”, explica.
Para Pedro Ros, CEO da Referência Capital, a alta do dólar, intensificada pelo “tarifaço” promovido pelo governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, “pesa nos preços e dificulta cortes na Selic”.
“O Banco Central deve manter os juros elevados por mais tempo. Nesse cenário, o crédito tradicional encarece, mas o consórcio imobiliário segue sendo uma alternativa segura e sem juros para investir em imóveis e proteger o patrimônio da inflação”, diz Ros.
Theo Braga, CEO da SME The New Economy, avalia que o desempenho da inflação de março “reforça um ambiente macroeconômico desafiador para o curto prazo, especialmente no que diz respeito à política monetária”.
“O cenário atual, com forte pressão sobre alimentos e bebidas e o dólar em alta, limita a possibilidade de cortes na Selic. Para empresas, isso significa crédito mais caro e um custo de capital elevado”, pondera Braga.
Meta de inflação pode ser descumprida
A partir deste ano, a meta de inflação é contínua, e não mais por ano-calendário. Ou seja, o índice é apurado mês a mês. Nesse novo modelo, se o acumulado em 12 meses ficar fora desse intervalo por seis meses consecutivos, a meta é considerada descumprida.
Em caso de descumprimento, o Banco Central precisa divulgar carta aberta ao ministro da Fazenda — neste caso, Fernando Haddad — explicando as razões para o estouro. Isso porque o BC tem o papel de controlar a inflação e o principal instrumento para conter o avanço dos preços é a taxa básica de juros, definida pelo Copom a cada 45 dias.
Gabriel Galípolo, indicado para a presidência do BC
Roque de Sá/Agência Senado
Galípolo trabalha no Banco Central desde 2023
Hugo Barreto/Metrópoles
Galípolo foi indicado para assumir a presidência do Banco Central
Hugo Barreto/Metrópoles
O próprio Banco Central segue dando declarações indicando o estouro do teto da meta inflacionária em 2025.
Na ata do Comitê de Política Monetária (Copom) de março, o BC alertou que, se a inflação continuar avançando, o valor acumulado em 12 meses permanecerá “acima do limite superior do intervalo de tolerância da meta nos próximos seis meses consecutivos”.
“Desse modo, com a inflação de junho deste ano, configurar-se-ia descumprimento da meta sob a nova sistemática do regime de metas”, destacou o colegiado em trecho da ata.
Além disso, o BC avaliou que a chance de a inflação estourar o teto da meta subiu de 50% (em dezembro) para 70%, conforme dados presentes no Relatório de Política Monetária (RPM), publicado no fim de março.