O governo federal vai avisar os beneficiários pelo aplicativo Meu INSS sobre eventuais descontos irregulares efetuados em suas contas, no âmbito do esquema investigado pela Controladoria-Geral da União (CGU) e pela Polícia Federal (PF). O caso foi revelado pelo Metrópoles.
Em entrevista na manhã desta quinta-feira (8/5), o novo presidente do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), Gilberto Waller Júnior, salientou que os beneficiários poderão verificar o valor do desconto feito, assim como a associação responsável pela cobrança.
De acordo com o INSS, cerca de 9 milhões de beneficiários sofreram descontos em suas folhas de pagamento no período investigado. Segundo Waller, essas pessoas serão notificadas pelo instituto para informar se autorizaram ou não as cobranças. A notificação será enviada na próxima terça-feira (13/5). No dia seguinte, os aposentados poderão fazer a confirmação ou contestação dos descontos por meio do aplicativo Meu INSS, ou pela central 135.
“Ao falar que ele não concorda [com o desconto efetuado pela associação], não precisa juntar documento algum. Não precisa preencher nada. Ele vai falar: esse desconto eu não reconheço”, explicou Waller.
O valor será devolvido pelas associações diretamente ao INSS, que repassará o montante às contas dos beneficiários. Caso o aposentado negue ter autorizado o desconto, a associação será acionada e terá 15 dias para comprovar o vínculo. Se não conseguir, deverá restituir o valor ao beneficiário. Segundo as investigações da PF, há indícios de que muitas assinaturas foram fraudadas.
“Ela [associação] vai fazer um depósito identificado por meio de uma GRU [Guia de Recolhimento da União] específica ao INSS. E esse valor vai ser repassado ao segurado pela sua conta de benefício, por meio de folha suplementar”, esclareceu o presidente do INSS.
Caso não seja possível recuperar os valores diretamente das associações, a Advocacia-Geral da União (AGU) prevê o ajuizamento de ações judiciais para cobrar os envolvidos. O advogado-geral da União, Jorge Messias, afirmou que, se necessário, o governo federal arcará com os custos, mas que buscará recuperar os valores.
“Se eventualmente a União, o Tesouro tiver de arcar com qualquer custo, isso não significa que nós não prosseguiremos com o trabalho de buscar o regresso de cada centavo utilizado para pagar os aposentados e pensionistas. O que nós não podemos é sermos omissos e não seremos. Neste momento, preferimos, em caráter excepcional, atuar para compensar cada vítima que foi lesada por este escândalo criminoso”, afirmou Messias.





Polícia Federal cumpre mandados de busca na operação Sem Desconto
BRENO ESAKI/METRÓPOLES
Jorge Messias, advogado-geral da União (AGU), e o presidente do INSS, Gilberto Waller Júnior
KEBEC NOGUEIRA/METRÓPOLES @kebecfotografo
Fachada da Previdência Social
KEBEC NOGUEIRA/METRÓPOLES @kebecfotografo
Carros de luxo apreendidos com o “Careca do INSS”
Reprodução/PF
KEBEC NOGUEIRA/METRÓPOLES @kebecfotografo
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O ex-ministro da Previdência, Carlos Lupi
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Coletiva em que o PL anunciou que protocolou pedido da CPI do INSS
Hugo Barreto/Metrópoles
@hugobarretophoto
Presidente do INSS, Gilberto Waller Júnior
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Polícia Federal deflagrou operação por fraudes no INSS
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PF fez buscas durante operação Sem Desconto
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Fraude no INSS
A “Farra do INSS” foi revelada pelo Metrópoles em uma série de reportagens, publicadas a partir de dezembro de 2023. O caso do desvio bilionário das aposentadorias e pensões rendeu os cargos de dois membros do alto escalão do governo federal.
Entenda o caso revelado pelo Metrópoles
- Em março de 2024, o Metrópoles revelou, a partir de dados obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI), que 29 entidades autorizadas pelo INSS a cobrar mensalidades associativas de aposentados tiveram um salto de 300% no faturamento com a cobrança, no período de um ano, enquanto respondiam a mais de 60 mil processos judiciais por descontos indevidos.
- A reportagem analisou dezenas de processos em que as entidades foram condenadas por fraudar a filiação de aposentados que nunca tinham ouvido falar nelas e, de uma para outra, passaram a sofrer descontos mensais de R$ 45 a R$ 77 em seus benefícios, antes mesmo de o pagamento ser feito pelo INSS em suas contas.
- Após a reportagem, o INSS abriu procedimentos internos de investigação, e a Controladoria-Geral da União (CGU) e a PF iniciaram a apuração que resultou na Operação Sem Desconto, deflagrada nesta quarta-feira.
- As reportagens também mostraram quem são os empresários por trás das entidades acusadas de fraudar filiações de aposentados para faturar milhões de reais com descontos de mensalidade. Após a publicação das matérias, o diretor de Benefícios do INSS, André Fidelis, foi exonerado do cargo.
Em 23 de abril, a Polícia Federal (PF) deflagrou uma megaoperação, batizada de Sem Desconto, para investigar cobranças indevidas feitas por entidades em contas de pensionistas e aposentados do INSS.
As investigações da PF e CGU indicam que o esquema pode ter desviado cerca de R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024. O governo calcula quais casos não tiveram consentimento para iniciar o processo de ressarcimento dos lesados.
Após a revelação da fraude e operação da PF, o então ministro da Previdência Social Carlos Lupi e o então presidente do INSS Alessandro Stefanutto saíram dos cargos. Lupi pediu demissão, enquanto Stefanutto foi afastado pela Jutiça e, posteriormente, demitido.
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