Apesar das religiões de matriz africana estarem historicamente ligadas às populações negras no Brasil, o Censo Demográfico de 2022, divulgado na manhã desta sexta-feira (6/6), revela que a maioria dos praticantes de umbanda e candomblé se declara branca. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 42,7% dos adeptos dessas religiões são pessoas brancas, enquanto pardos somam 33,1% e pretos, 17,1%.
A maior proporção de praticantes da umbanda e do candomblé está no Rio Grande do Sul (3,2%), seguido por estados do Sudeste, como Rio de Janeiro (2,1%) e São Paulo (1,6%) — regiões onde há maior presença de população branca no Brasil.
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Os dados chamam atenção porque demonstram um distanciamento entre a origem das religiões afro-brasileiras e o perfil racial atual de seus praticantes. Embora os terreiros continuem sendo espaços fundamentais de resistência e preservação da cultura negra no país, há um movimento de crescimento da presença branca nessas tradições, especialmente nas áreas urbanas do Sudeste e do Sul.
Entenda a pesquisa
- O Censo 2022 permitiu ao cidadão a possibilidade de participar por meio de três formas diferentes: entrevista presencial, por telefone ou autopreenchimento pela internet.
- O quesito Qual é sua religião ou culto? foi aplicado a todas as pessoas de 10 anos ou mais de idade, contudo, nas Terras Indígenas e nos Setores Censitários de agrupamentos indígenas, para melhor captação das informações desse grupo populacional específico, a redação do quesito foi alterada para Qual a sua crença, ritual indígena ou religião?
- A entrevista presencial correspondeu a maior parte (98,9%) das respostas do Censo 2022 com 72 433 841 questionários aplicados.
- A investigação das características dos domicílios e das pessoas neles residentes terá com data de referência zero hora do dia 1º de agosto de 2022
- Desde o primeiro Censo Demográfico brasileiro, realizado em 1872, a religião tem sido alvo de investigação censitária.
Racismo religioso
Embora os dados do Censo 2022 mostrem que a maior parte dos praticantes de religiões de matrizes africanas se declara branca (42,7%), especialistas apontam que a intolerância religiosa continua recaindo, de forma desproporcional, sobre comunidades negras e periféricas.
Segundo o Dossiê Intolerância Religiosa – Discriminação e Violência contra Povos de Terreiro no Brasil (2023), terreiros localizados em favelas e territórios quilombolas são os que mais sofrem com ataques, ameaças e discriminação.
Na época, Rodney William, babalorixá – sacerdote principal, chefe espiritual e administrador de um terreiro de Candomblé – e doutor em História pela Unicamp chegou a analisar o dossiê. “A branquitude pode frequentar o terreiro sem necessariamente carregar o peso histórico do racismo religioso. Já as lideranças negras continuam sendo criminalizadas, violentadas ou invisibilizadas”, afirmou.
Pardos são maioria em quase todas as religiões
Pessoas que se autodeclaram pardas formam o grupo majoritário em grande parte das religiões, apontam dados do Censo Demográfico de 2022. Essas pessoas representam, por exemplo, 49,1% dos evangélicos, 45,1% dos sem religião, 33,1% dos adeptos da umbanda e do candomblé e 26,3% dos espíritas.
Confira:
Embora a presença de pardos seja expressiva entre todas as religiões, a distribuição racial entre elas também expõe desigualdades sociais. Os grupos com maior presença de brancos, como o espiritismo, concentram os melhores indicadores socioeconômicos: são os que têm maior escolaridade, menor taxa de analfabetismo (apenas 1%) e maior acesso à internet em casa (96,6%).
Já os grupos com maior presença de pretos, indígenas e pardos tendem a enfrentar maiores taxas de analfabetismo, menor acesso a ensino superior e condições de moradia mais vulneráveis. É o caso das tradições indígenas e da população católica mais envelhecida, por exemplo.